segunda-feira, 24 de agosto de 2009

COLEÇÃO FOLHA
GRANDES ESCRITORES BRASILEIROS

1

MACHADO DE ASSIS

Dom
Casmurro

(1899)

2008

Titular dos direitos de edição: NOVA FRONTEIRA S.A.

Este é o maior clássico da literatura brasileira, e há alguma estranheza nisso. Trata-se de um romance negativo, sutil e sombrio como poucos, em que dificilmente se pode reconhecer a imagem, festeira e expansiva, que fazemos de nós mesmos.
Muitos brasileiros que nunca leram Dom Casmurro já ouviram, entretanto, falar da pergunta que se repete há mais de um século: "Afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho?" Por melhores que tenham sido as interpretações a esse respeito, a questão não morre - e, como todo clássico, Dom Casmurro tem esse caráter de esfinge, provocando sempre o retorno, a releitura, a fascinação do mesmo enigma.
É que talvez nessa questão, bastante prosaica e, no limite, irrelevante, algo de mais profundo se concentre. Temos no Brasil a sensação de pisarmos, todos, em terreno incerto, e uma desconfiança básica nos separa do destino e das paixões que, como país, julgamos possuir.
Machado de Assis soube expressar de modo inimitável esse desconforto, esse fundo ressabiado e "oblíquo" (para repetir um adjetivo famosamente empregado neste romance) que acompanha a experiência de ser brasileiro. Os cortes precisos de frase, os capítulos secos, os diálogos brevíssimos dão a cada página de Dom Casmurro uma aparência de cristal - e, ao mesmo tempo, parecem apenas acrescentar mais e mais camadas de imprecisão e ambiguidade ao relato. Como se cada faceta não decompusesse a luz nas cores do arco-íris, mas sim desdobrasse, em novos matizes, uma sombra, uma escuridão que é nossa e do país em que vivemos.


MARCELO COELHO
Colunista da Folha
(332 págs.)

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