domingo, 23 de agosto de 2009

Clube do Livro

HONORÉ DE BALZAC

Uma paixão no deserto




UMA PAIXÃO NO DESERTO

- Que espetáculo terrível! - exclamou ela, ao sair do estabelecimento, onde o Sr. Martin conservava os animais.
Acabava de contemplar o ousado especulador "trabalhando" com sua hiena, para empregar um termo ao estilo propagandístico.
- Que meio terá usado - continuou ela - para aprisionar os animais, e para estar certo de sua afeição a ponto de...
- O que lhe parece um problema - respondi, interrompendo-a - é entretanto coisa muito natural.
- Oh! - exclamou, deixando bailar nos lábios um sorriso de incredulidade.
- Então, julga que as feras são inteiramente desprovidas de paixões? - perguntei. - Pois saiba que podemos ensinar-lhes todos os vícios devidos a nosso estado de civilização.
Ela fitou-me, com ar espantado.
- Mas - continuei - confesso que, vendo o Sr. Martin pela primeira vez, escapou-me, como a senhora, uma exclamação de surpresa. Eu estava, então, junto a um antigo militar, cuja perna direita fora amputada, e que entrara comigo.
Seu aspecto havia me impressionado. Possuía uma fisionomia intrépida, dessas marcadas pela guerra, nas quais estão escritas as batalhas de Napoleão.

Tradução: JOSÉ MARIA MACHADO e AUGUSTO DANTAS
Prefácio de EVANGELISTA PRADO
Capa e ilustrações de VICENTE DI GRADO
(1976)

(162 págs.)

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