domingo, 9 de agosto de 2009

Biblioteca FOLHA

WILLIAM
GOLDING


O Senhor
das Moscas


(1954)



2003

Como seria o homem livre das regras sociais que determinam seu cotidiano? Sem as amarras impostas pela vida em sociedade, o que emergiria como a verdadeira essência da natureza humana?
Em O Senhor das Moscas, William Golding lida com essas questões ao criar uma situação-limite. Um avião cai numa ilha deserta e os sobreviventes, um grupo de meninos, organizam-se enquanto aguardam resgate. O paraíso tropical é cenário para um começo promissor. Ainda conectados aos valores da civilização remota, eles elegem um líder, democraticamente, e enfrentam as dificuldades em negociada harmonia. As nuvens e as noites, porém, provocam visões de um bicho ameaçador que prenunciam o domínio do medo, sob o qual os meninos passam a agir com selvageria. Desfeito o sentido de ordem, a truculência da luta pelo poder deixa um rastro de destruição que termina em caçadas humanas e assassinatos.
Ao abordar a inocência perdida, Golding constrói uma fábula com ecos bíblicos. O "Senhor das Moscas" é Belzebu, o príncipe dos demônios citado por Mateus. A identificação empresta um caráter sombrio à condição do homem: o bom selvagem agora era também uma criança cruel.
Como fábula, o livro tem uma moral, que bem pode ser a defesa, pelo avesso, dos valores cristãos que moldaram a sociedade ocidental. Não é por essa ou outra conclusão, entretanto, que deve ser lido, mas por se tratar de uma ficção que, com o vigor das imagens e a concisão estilística do texto, levou Golding a fincar o pé no panteão dos clássicos da literatura moderna.


OSCAR PILAGALLO
Colaborador da Folha

(220 págs.)

Comentário: quem acompanha o excelente seriado LOST deve ler esse livro.
(by Cristiano)