terça-feira, 11 de agosto de 2009

Biblioteca FOLHA

ITALO
CALVINO


As Cidades
Invisíveis


(1972)



2003

Por definição, é impossível mapear essas cidades invisíveis e, por consequência, inviável localizá-las. Esta é apenas uma das muitas interdições em jogo neste romance fabuloso de Italo Calvino, em que uma rigorosa - quase matemática - construção ficcional se alimenta de poderosos saltos imaginativos. Graças a eles, transcende qualquer fronteira: "quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido".
Marco Polo, versão transfigurada de Scherazade, é a primeira vítima dessas proibições: ele não pode não contar. Precisa descrever para o conquistador Kublai Khan cada lugar de um infinito império e, para cada um, fornecer um "nome" e "um itinerário a percorrer". De uma cidade, diz o veneziano, aproveitamos "a resposta que dá às nossas perguntas". Como as dúvidas do soberano nunca cessam, para o viajante inexiste descanso.
Movido pela compulsão por saber sempre mais, o imperador dos tártaros, o ser mais poderoso da Terra, também sofre com os limites. A ele, não é dado o privilégio de conhecer o que possui, e isso ao mesmo tempo engrandece e esvazia o território dominado. O domínio se concretiza por meio do discurso, mas o problema permanece, pois, como alerta Marco Polo, "jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve".
Por fim, estão circunscritas a uma geografia indefinida as próprias cidades, dependentes eternas da memória de um homem, inevitavelmente falhas porque, por maravilhosas que sejam, nunca serão Veneza: o ponto de partida e de referência, o real que fabrica o mito.


ADRIANO SCHWARTZ
Editor do caderno "Mais!"

(158 págs.)