HQ
Por Sidney Gusman
O tema desta coluna surgiu em meados de dezembro, quando comecei a fazer o listão de tudo de bacana publicado no ano passado, para escolher os melhores (confira a matéria nesta edição). Durante a seleção, notei que uma tendência iniciada em 2004 ganhou ainda mais força: a republicação de obras consagradas.
Maus
Primeira revista em quadrinhos a ganhar um prêmio Pulitzer.
Publicado em: junho de 2005
Editora: Cia. das Letras
Licenciador: Art Spiegelman
Número de páginas: 300
Formato: (16 x 23 cm)
Na lista dos 20 melhores especiais e minisséries, simplesmente metade já havia saído (ao menos parcialmente) no Brasil: Maus, Sandman, Tintim, Planetary, Tom Strong, as histórias de Carl Barks, Sin City, Elektra Assassina, Batman - Ano Um e Marvels! Isso sem contar que ficaram fora da lista Watchmen, as HQs clássicas dos Novos Titãs e Quarteto Fantástico, Top 10, o primeiro arco de 100 Balas, Authority e outros.
Sandman 01 - Prelúdios e Noturnos
Publicado em: junho de 2005
Editora: Conrad
Licenciador: DC (Vertigo)
Categoria: Álbum de Luxo
Gênero: Fantasia
Status: Edição única
Número de páginas: 252
Formato: (19 x 28,5 cm)
Colorido/Capa dura
Até nos títulos de periodicidade regular isso vem acontecendo. Lobo Solitário (de forma incompleta, é verdade), Dragonball e Ken Parker já estiveram em nossas bancas tempos atrás. E vale lembrar que Cavaleiros do Zodíaco, Vagabond e Evangelion já entraram pelo mesmo caminho. E deve vir mais por aí.
Lobo Solitário n° 1
Publicado em: março de 1988
Editora: Cedibra
Licenciador: First
Número de páginas: 100
Formato: Americano (17 x 26 cm)
O assunto chamou tanto a atenção, que já estamos cogitando na redação criar uma categoria à parte para as republicações entre os melhores de 2006.
Mas o que importa mesmo é discutir as razões para tantas republicações. A primeira e mais óbvia é a qualidade inquestionável dessas obras. Prova disso é que todas as editoras que as lançaram tiveram excelentes resultados de vendas (algumas já tiveram até reimpressões) - mesmo quando as edições saíram mais caras, em função do requinte gráfico.
O mercado brasileiro descobriu o que o norte-americano e o europeu sabem há anos: sempre haverá demanda para materiais de qualidade e existe toda uma geração de novos leitores que não teve a chance de acompanhá-los, que só ouvia falar o quanto eram bons. Agora, estão comprovando.
Grandes Clássicos DC n° 3 - Batman Ano Um - Edição Definitiva
Acompanha poster tamanho 52 x 67 cm.
Arte de David Mazzucchelli
Publicado em: julho de 2005
Editora: Panini
Licenciador: DC Comics
Número de páginas: 148
Formato: Americano (17 x 26 cm)
Não estranhe se, em breve, copiarmos o que acontece em mercados mais poderosos, republicando clássicos como O Cavaleiro Trevas, Watchmen, Corto Maltese, Asterix etc, a cada década (ou em intervalos mais curtos até). Por serem atualíssimos, esses títulos sempre serão garantia de retorno financeiro. Basta verificar que dois dos melhores lançamentos do ano passado já tiveram quatro edições no Brasil, em menos de 20 anos: Sandman e Batman - Ano Um. E continuam fazendo sucesso.
Agora, se por um lado essa demanda tem todo o lado positivo de apresentar essas obras a novos fãs, por outro escancara algo que está evidente há anos: a crise criativa que atinge os quadrinhos no mundo todo - alguns creem que foi esta a razão para o êxito dos mangás. E não porque as HQs japonesas são todas brilhantemente escritas, mas pelo fato de terem começo, meio e fim, serem sempre de um único autor e "enrolarem" menos.
No mercado que é mais próximo do leitor brasileiro, o de super-heróis, isso é ainda mais evidenciado. Atualmente, sempre que se fala de uma história bem engendrada (note que não escrevi "brilhante"), ela é quase sempre é assinada por Brian Michael Bendis, Mark Millar, Garth Ennis, Grant Morrison, Geoff Johns, Mark Waid, Kurt Busiek ou algum autor "importado" de outras mídias, como cinema, TV e literatura.
Claro que as razões para isso renderiam páginas de discussão, pois vão do fast-food que se tornou a indústria dos comics, entupindo o mercado com títulos muitas vezes questionáveis (leia-se ruins) apenas para "ocupar espaço", à pura e simples falta de talento de alguns escritores.
E uma mudança desse quadro passa por uma reestruturação radical da forma como as editoras norte-americanas enxergam o negócio quadrinhos. E todos nós sabemos que isso é uma utopia das grandes.
Por isso, não é à toa que Marvel e DC se engalfinham para garantir contratos de exclusividade com alguns dos autores acima citados. Afinal, hoje, eles são as únicas garantias de que, daqui a 20 anos, o time dos títulos que merecem ser republicados periodicamente ganhe alguns novos integrantes.
WIZARD BRASIL # 28 - Janeiro de 2006 - Panini Comics.
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