Ele reviveu o Batman, salvou os X-Men, desafiou o sistema e mudou os quadrinhos para sempre
Por Christopher Lawrence
Brave and the Bold (1955) 75-A
Comic Book by DC
Jan 1968
Batman and the Spectre in
"The Grasp of Shahn-Zi"
Neal Adams se recosta em sua poltrona e pondera a resposta. Ele foi apontado como o terceiro artista mais influente dos quadrinhos, perdendo apenas para Will Eisner e Jack Kirby. Então, olha para o alto, como se mentalmente acessasse os nomes de outros desenhistas, e chega a uma conclusão.
"É isso mesmo", ele diz. "Eu concordo."
Essa falta de modéstia é mais do que costumeira em Adams. Na verdade, é até esperada. A autoconfiança desse artista de 62 anos tornou-se tão lendária quanto seu estilo. Mas será que ele é mesmo um egocêntrico? Ninguém diz isso ao encontrá-lo pela primeira vez. O dono dos estúdios Continuity, de Nova Iorque, é aberto e convidativo; e não costuma por no jornal suas qualidades.
Ele é. isso sim, honesto - talvez até demais - e jamais negou a reconhecer sua posição de destaque na história dos quadrinhos.
"Eu nunca existiria se antes não tivesse aparecido Neal", admite Alex Ross (LJA: Liberdade e Justiça / Marvels ). "Ele foi um pioneiro", acrescenta o editor-chefe da Marvel, Joe Quesada. "Se eu precisasse descrevê-lo em apenas uma palavra, ela seria 'gênio'."
Para Adams, a vida tanto dentro quanto fora dos quadrinhos - consiste em confiar em si mesmo e "traçar seu próprio destino".
ABRINDO PORTAS
Adams não perdeu tempo para forjar o destino por conta própria. Meses depois de ser contratado pela DC, no final dos anos 60, invadiu a sala do lendário editor Julius Schwartz exigindo uma chance de desenhar Batman.
A resposta de Schwartz?
"Caia hora da minha sala."
No entanto, o audacioso artista logo foi recompensado (em 1968) com a incumbência de desenhar e arte-finalizar regularmente a revista Brave and the Bold. Na melhor das hipóteses, tratava-se de um título complementar do Morcego, mas Adams - em seu estilo inimitável - aproveitou a oportunidade e marcou época.
Seu Batman, decidiu ele, seria um autêntico "Cavaleiro das Trevas". Os contemporâneos de Adams tendiam a situar as histórias do herói à luz do dia, algo que nunca agradou ao jovem artista. Para ele, seus colegas estavam apenas seguindo a série da TV e privando o personagem de todo o mistério.
Em Brave and the Bold, o autor devolveu o personagem ao cenário noturno, como um combatente do crime que aparecia e desaparecia entre as sombras. O expediente deu certo, para surpresa de Schwartz.
"Por que estou recebendo cartas dizendo que o único Batman verdadeiro da DC é o de Brave and the Bold?", perguntou o editor ao artista.
Adams não parou para pensar na resposta. Nem precisava. "Porque é o único Batman verdadeiro", disse.
Segundo as lembranças do artista, Schwartz teria dito então: "Você acha mesmo que sabe como Batman deve ser?"
"Julie, qualquer garoto na América sabe. As únicas pessoas que parecem não saber como Batman deveria ser são vocês da DC", ele respondeu.
Batman (1940) 244-A
Comic Book by DC
Sep 1972
"The Demon Lives Again!"
Não muito tempo depois, Neal Adams passou a cuidar dos principais títulos do Homem-Morcego e, em companhia de Denny O'Neil, conduziu uma das mais bem-sucedidas e influentes eras na longa história do Cavaleiro das Trevas.
"Neal sempre foi um dos meus artistas preferidos", afirma O'Neil. "Seus quadrinhos superavam qualquer coisa que estivesse em minha mente quando escrevia as histórias."
Praticamente sozinho, Adams libertou Batman dos elementos camp e cartunescos da série de TV, e deu ao Cavaleiro das Trevas um grau de realismo que não era visto havia décadas.
"Neal revolucionou o personagem", declara o ilustrador de 1602, Andy Kubert. "É seguindo seu estilo que as pessoas retratam Batman hoje". Essa, ironicamente, foi a razão pela qual Adams encerrou seu período no gibi. "Todo mundo começou a fazer o meu Batman", relembra. "Então, eu não precisava mais fazê-lo".
Fonte: Wizard Brasil # 4 - Janeiro de 2004 - Panini Comics.
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