Preparando-se para a aposentadoria, o gênio dos quadrinhos Alan Moore reflete a respeito de seus maiores sucessos, da desconstrução dos super-heróis em Watchmen aos motivos por que não gosta de A Piada Mortal
Por Mike Cotton
Quando se olha no espelho, Alan Moore, agora com 50 anos (em julho de 2002), vê as imperfeições da idade: as linhas no rosto onde antes havia pele lisa, os cabelos grisalhos e a extensa barba, que, convenhamos, poderia ser aparada.
Mas o que os seus fãs veem é a perfeição - ou o mais próximo disso que um roteirista de quadrinhos já chegou nos últimos 20 anos. Eles veem um inovador, uma lenda, um gênio. "Essa palavra está desgastada", diz Moore. "Sou um bom roteirista de quadrinhos e um escritor razoável, mas não sei direito o que significa ser um 'gênio', e particularmente não faço muita questão de ser um. Com certeza, não é como me enxergo. Se os outros preferem me rotular assim, é problema deles; e isso me deixa lisonjeado. Mas não posso dizer que seja algo que eu pensei muito a respeito", esclarece.
Para comemorar - com o perdão da palavra, senhor Moore - a genialidade de um dos maiores roteiristas dos quadrinhos, a Wizard o convenceu a dar uma espiada no espelho retrovisor e analisar sua própria carreira. Eis o resultado - Alan Moore por ele mesmo, falando sobre suas maiores obras.
MARVELMAN
(Warrior Magazine, 1982-1984)
Depois de décadas esquecido, Marvelman (rebatizado de Miracleman nas reedições americanas) foi revigorado por Moore, que o transformou num herói envelhecido, que não lembrava mais a palavra mágica que transformava seu alter-ego Mike Moran no poderoso super-herói. Ao lançar um olhar peculiar sobre um dos poucos super-heróis britânicos, Alan Moore se preocupou em criar histórias adultas.
Quando era garoto, pensei em fazer uma paródia de Marvelman no estilo Mad. A piada central seria que ele esqueceu a palavra mágica e não consegue lembrar qual é. Mas deixei essa ideia de lado.
No começo dos anos 80, já bastante crescido, resolvi criar uma versão mais realista de Marvelman que, na minha cabeça, tinha nascido como uma simples sátira e se transformou em algo que poderia ser bastante pungente.
Para falar a verdade, ele nem era tão bom assim. Não passava de uma versão britânica do Capitão Marvel (Shazam), e sua única importância foi o fato de ter sido um dos pouquíssimos super-heróis ingleses. Essa foi a primeira vez que percebi o potencial dessa nova abordagem do universo dos super-heróis, que eu aplicaria com mais profundidade em trabalhos como Watchmen.
Fonte: Wizard Brasil 5 - Fevereiro de 2004.
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