sábado, 18 de fevereiro de 2012

LXXIV


O CAMINHO molhado pela água de agosto
brilha como se fosse cortado em lua cheia,
em plena claridade da maçã,
em metade da fruta do outono.

Neblina, espaço ou céu, a vaga rede do dia
cresce com frios sonhos, sons e pescados.
O vapor das ilhas combate a comarca,
palpita o mar sobre a luz do Chile.

Tudo se reconcentra como o metal, se escondem
as folhas, o inverno mascara sua estirpe
e só cegos somos, sem cessar, somente,

Somente sujeitos ao leito sigiloso
do movimento, adeus, da viagem, do caminho:
adeus, da natureza caem as lágrimas.

Pablo Neruda
Cem Sonetos de Amor
Tarde

L&PM Pocket
julho de 2011

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