Biblioteca FOLHA
JOSÉ SARAMAGO
História do Cerco de Lisboa
(1987)
JOSÉ SARAMAGO
História do Cerco de Lisboa
(1987)
2003
"As ficções que contam, fazem-se... com uma continuada dúvida... a inquietação de saber que nada é verdade e ser preciso fingir que o é." Entre as ficções que mais contam, nos dias de hoje, estão a do autor frase; e entre os livros dele, nenhum se firma tanto nisso para fingir suas verdades quanto a História do Cerco de Lisboa.
São duas histórias: a história real do cerco a Lisboa no ano de 1147 (quando os portugueses, com ajuda dos cruzados, tomaram a cidade aos mouros) e outra história, fictícia, que surge aos poucos na cabeça do revisor Raimundo Silva, depois de alterar injustificadamente certa frase nas provas de um livro, mudando a história com a simples força de um "não".
É um tema mais que caro a José Saramago: o bom uso das palavras, que fazem luz "sobre o entendimento das coisas, até onde se pode, e aonde, a não ser por elas, não se chega". Bom uso: poder dizer o que se quer, e querer dizer o que se pode, quando o que está em jogo é o entendimento humano das coisas. Não por acaso, os dois cercos, o real e o fictício, se confundem aqui com um cerco amoroso, que se vai fechando sobre o velho revisor e sua jovem editora, como se fecha, oitocentos imaginados anos antes, sobre um soldado português e a viúva de um cruzado.
Este título, então, História do Cerco de Lisboa, ganha um duplo sentido inesquecível daqui para a frente. Não diz respeito só ao que se passou numa hedionda guerra religiosa medieval. Para nós, agora, é também a cifra de uma longamente adiada, longamente sofrida, demoradamente saboreada, maravilhosa e comum história de amor.
São duas histórias: a história real do cerco a Lisboa no ano de 1147 (quando os portugueses, com ajuda dos cruzados, tomaram a cidade aos mouros) e outra história, fictícia, que surge aos poucos na cabeça do revisor Raimundo Silva, depois de alterar injustificadamente certa frase nas provas de um livro, mudando a história com a simples força de um "não".
É um tema mais que caro a José Saramago: o bom uso das palavras, que fazem luz "sobre o entendimento das coisas, até onde se pode, e aonde, a não ser por elas, não se chega". Bom uso: poder dizer o que se quer, e querer dizer o que se pode, quando o que está em jogo é o entendimento humano das coisas. Não por acaso, os dois cercos, o real e o fictício, se confundem aqui com um cerco amoroso, que se vai fechando sobre o velho revisor e sua jovem editora, como se fecha, oitocentos imaginados anos antes, sobre um soldado português e a viúva de um cruzado.
Este título, então, História do Cerco de Lisboa, ganha um duplo sentido inesquecível daqui para a frente. Não diz respeito só ao que se passou numa hedionda guerra religiosa medieval. Para nós, agora, é também a cifra de uma longamente adiada, longamente sofrida, demoradamente saboreada, maravilhosa e comum história de amor.
ARTHUR NESTROVSKI
Articulista da Folha
Articulista da Folha
(319 págs.)
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