Teologia, inteligência artificial, filosofia, ciência futurista. E mais: efeitos especiais inéditos, legiões de fãs extasiados e uma mistura intoxicante de cinema e videogame. Mergulhe na alma de um dos filmes mais bem-suceditos da história e saiba por que os cientistas acham que ele é muito mais do que uma obra de ficção
Por Rafael Kenski
Olhe à sua volta. Perceba os detalhes da sua cadeira, do lugar em que você está, da textura das suas roupas, do barulho ao fundo e das cores nesta página. Parecem reais? Eles não poderiam ser, por exemplo, uma simulação feita por um enorme sistema de inteligência artificial? Você pode achar que não, porque eles sempre estiveram ali e - ao contrário dos computadores - cadeiras e páginas de revista nunca travaram de uma hora para outra. Mas pense novamente. Existem muitas pessoas, muito inteligentes, que acham que isso pode ser verdade. Para elas, o mundo talvez não seja como imaginamos. Há até quem acredite que temos 25% de chances de viver mesmo em uma simulação de computador. Ou seja, talvez a trilogia iniciada em 1999 com o filmes Matrix não seja tão despropositada quanto parece.
O debate vem em boa hora. Estreia no dia 23 de maio de 2003 o filme Matrix Reloaded, a esperada continuação do filme que descreve um futuro em que as máquinas mantêm a humanidade presa a uma enorme simulação da nossa realidade, a Matrix. O terceiro filme, Matrix Revolutions, chega seis meses depois, em novembro. A estratégia dos produtores é a mesma dos robôs que criaram a simulação - preencher todos os sentidos das pessoas até que elas não consigam mais sair do mundo que eles inventaram. Junto com Reloaded, chega às lojas o jogo Enter the Matrix, que é também uma continuação da história. Pela primeira vez o jogo e o filme foram feitos juntos, como se fossem uma coisa só. Os atores, diretores, produtores, coreógrafos e cenários do jogo são os mesmos de Matrix Reloaded - em um dia eles filmavam as cenas do cinema e no seguinte, as do jogo. O resultado é que quem se aventurar no joystick não só verá uma hora a mais de história como entenderá melhor algumas das passagens do filme. Rosana Sun, uma das produtoras do jogo, explicou ao jornal americano USA Today como será essa interação. Em Reloaded, por exemplo, há uma cena em que os personagens discutem um plano para colocar bomba em um prédio de segurança. O game traz a continuação da conversa e coloca o jogador para comandar os personagens durante a missão. Para distrair a espera entre os dois filmes, será lançado, em 3 de junho, Animatrix, um vídeo e DVD com nove animações em estilo japonês, os animes, inspiradas nos filmes. Quatro delas estão disponíveis de graça na internet, no endereço www.theanimatrix.com.
A ideia é repetir o sucesso do primeiro filme, que ganhou quatro Oscars, arrecadou 460 milhões de dólares no mundo todo e foi o primeiro DVD a vender mais de 1 milhão de cópias. Mais que isso, as sequências de ação em câmera lenta, as lutas coreografadas, as roupas e os temas cyberpunk serviram de inspiração para dezenas de filmes, games e propagandas que surgiram depois. Poucas coisas em Hollywood foram tão plagiadas quanto o efeito tempo de bala - o impressionante truque em que a câmara gira em 360 graus ao redor de uma cena. "Matrix conseguiu misturar estilo e substância de uma maneira que outros filmes não foram capazes", afirma o filósofo Christopher Grau, da Universidade da Flórida, organizador de uma seção do site oficial do filme chamada "A Filosofia de Matrix". Espera um pouco... filosofia? "É, o filme levanta um número supreendente de questões filosóficas. Elas dão peso e substância ao que, de outro modo, seria apenas um filme cheio de estilo", diz Grau.
Para as poucas almas que não viram Matrix, ele conta a história do hacker Thomas (Keanu Reeves), também chamado de Neo, que encontra um cara cheio de truques chamado Morpheus (Laurence Fishburne). Ele toma uma pílula vermelha e descobre então que todo o nosso mundo é uma realidade simulada por computadores, um enorme mundo virtual chamado Matrix. A verdadeira realidade é um futuro em que as máquinas tomaram conta do mundo e mantêm os humanos em pequenas cápsulas, onde sua energia é usada para abastecer um gigantesco sistema de inteligência artificial enquanto a mente deles é mantida em uma espécie de sonho que chamamos de realidade. Morpheus é o líder de um grupo de rebeldes que quer nos libertar das máquinas e acredita que Neo é o esperado salvador da humanidade, algo como um novo messias. Depois de muito treinamento, golpes de kung-fu, roupas sombrias e armas pesadíssimas, Neo consegue transceder a realidade de Matrix, desafiar as leis da física e ganhar poderes sobre-humanos.
O enredo não traz só questões filosóficas. O filme é uma salada de vários tipos de arte feita pelos enigmáticos irmãos Larry e Andy Wachowski, responsáveis pelo roteiro e direção do filme. Entre as poucas informações que circulam a respeito deles está a de que devoram todo tipo de livro, de tratados filosóficos a histórias em quadrinhos.
Talvez por isso, o filme tem ligações com muitas tecnologias e previsões feitas hoje pelos cientistas, além de citações a várias obras literárias. Os pequenos detalhes escondidos nas cenas do filme foram um dos principais fatores que levaram o DVD a bater recordes - os fãs assistiam dezenas de vezes para perceber, por exemplo, que os objetos são predominantemente verdes no mundo da simulação e azuis na realidade. No entanto, a área de onde os diretores mais tiraram citações, nomes e referências foi o campo das religiões.
SUPERINTERESSANTE
Maio - 2003 - edição 188
págs. 38-40
O debate vem em boa hora. Estreia no dia 23 de maio de 2003 o filme Matrix Reloaded, a esperada continuação do filme que descreve um futuro em que as máquinas mantêm a humanidade presa a uma enorme simulação da nossa realidade, a Matrix. O terceiro filme, Matrix Revolutions, chega seis meses depois, em novembro. A estratégia dos produtores é a mesma dos robôs que criaram a simulação - preencher todos os sentidos das pessoas até que elas não consigam mais sair do mundo que eles inventaram. Junto com Reloaded, chega às lojas o jogo Enter the Matrix, que é também uma continuação da história. Pela primeira vez o jogo e o filme foram feitos juntos, como se fossem uma coisa só. Os atores, diretores, produtores, coreógrafos e cenários do jogo são os mesmos de Matrix Reloaded - em um dia eles filmavam as cenas do cinema e no seguinte, as do jogo. O resultado é que quem se aventurar no joystick não só verá uma hora a mais de história como entenderá melhor algumas das passagens do filme. Rosana Sun, uma das produtoras do jogo, explicou ao jornal americano USA Today como será essa interação. Em Reloaded, por exemplo, há uma cena em que os personagens discutem um plano para colocar bomba em um prédio de segurança. O game traz a continuação da conversa e coloca o jogador para comandar os personagens durante a missão. Para distrair a espera entre os dois filmes, será lançado, em 3 de junho, Animatrix, um vídeo e DVD com nove animações em estilo japonês, os animes, inspiradas nos filmes. Quatro delas estão disponíveis de graça na internet, no endereço www.theanimatrix.com.
A ideia é repetir o sucesso do primeiro filme, que ganhou quatro Oscars, arrecadou 460 milhões de dólares no mundo todo e foi o primeiro DVD a vender mais de 1 milhão de cópias. Mais que isso, as sequências de ação em câmera lenta, as lutas coreografadas, as roupas e os temas cyberpunk serviram de inspiração para dezenas de filmes, games e propagandas que surgiram depois. Poucas coisas em Hollywood foram tão plagiadas quanto o efeito tempo de bala - o impressionante truque em que a câmara gira em 360 graus ao redor de uma cena. "Matrix conseguiu misturar estilo e substância de uma maneira que outros filmes não foram capazes", afirma o filósofo Christopher Grau, da Universidade da Flórida, organizador de uma seção do site oficial do filme chamada "A Filosofia de Matrix". Espera um pouco... filosofia? "É, o filme levanta um número supreendente de questões filosóficas. Elas dão peso e substância ao que, de outro modo, seria apenas um filme cheio de estilo", diz Grau.
Para as poucas almas que não viram Matrix, ele conta a história do hacker Thomas (Keanu Reeves), também chamado de Neo, que encontra um cara cheio de truques chamado Morpheus (Laurence Fishburne). Ele toma uma pílula vermelha e descobre então que todo o nosso mundo é uma realidade simulada por computadores, um enorme mundo virtual chamado Matrix. A verdadeira realidade é um futuro em que as máquinas tomaram conta do mundo e mantêm os humanos em pequenas cápsulas, onde sua energia é usada para abastecer um gigantesco sistema de inteligência artificial enquanto a mente deles é mantida em uma espécie de sonho que chamamos de realidade. Morpheus é o líder de um grupo de rebeldes que quer nos libertar das máquinas e acredita que Neo é o esperado salvador da humanidade, algo como um novo messias. Depois de muito treinamento, golpes de kung-fu, roupas sombrias e armas pesadíssimas, Neo consegue transceder a realidade de Matrix, desafiar as leis da física e ganhar poderes sobre-humanos.
O enredo não traz só questões filosóficas. O filme é uma salada de vários tipos de arte feita pelos enigmáticos irmãos Larry e Andy Wachowski, responsáveis pelo roteiro e direção do filme. Entre as poucas informações que circulam a respeito deles está a de que devoram todo tipo de livro, de tratados filosóficos a histórias em quadrinhos.
Talvez por isso, o filme tem ligações com muitas tecnologias e previsões feitas hoje pelos cientistas, além de citações a várias obras literárias. Os pequenos detalhes escondidos nas cenas do filme foram um dos principais fatores que levaram o DVD a bater recordes - os fãs assistiam dezenas de vezes para perceber, por exemplo, que os objetos são predominantemente verdes no mundo da simulação e azuis na realidade. No entanto, a área de onde os diretores mais tiraram citações, nomes e referências foi o campo das religiões.
SUPERINTERESSANTE
Maio - 2003 - edição 188
págs. 38-40
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