domingo, 26 de junho de 2011

Paris é a festa de Woody Allen

Capital francesa estrela comédia romântica
com Owen Wilson, Marion Cottilard e Carla Bruni.

Lúcia Helena de Camargo



Se você pudesse ser transportado do tempo presente para qualquer época da história da humanidade, qual escolheria? Valendo passado e futuro e ainda com a possibilidade de escolher o lugar. O norte-americano Gil (Owen Wilson) não teria dúvidas. Passaria seus dias em Paris, nos anos de 1920. E para o ambiente ficar perfeito, ele encomendaria tardes e noites chuvosas. "Paris é muito mais bonita sob a chuva", diz - e nesse momento quase ouvimos a voz de Woody Allen fazendo a declaração. Personagem principal de Meia-Noite em Paris, novo filme do cineasta novaiorquino, e seu alterego na trama, Gil está noivo de Inez, uma bela mulher (Rachel McAdams) e passeia com ela pela capital francesa. Bem sucedido roteirista, acha que vai ter a vida realizada quando conseguir escrever um romance. Mas segue com a escrita empacada, envolto em muitas ideias e poucas decisões sobre como elaborar o texto.
No quarto ao lado do hotel no qual se hospedam Gil e Inez estão os pais da moça, que não hesitam em dar palpites sobre todos os aspectos da vida da filha, de vestidos a preparativos para o casamento, incluindo compra de peças de decoração e comportamento do futuro marido. Para aumentar a tensão, entra em cena outro casal de americanos, amigos de Inez. Encontrados por acaso em um restaurante, passam a conduzir passeios. O quarteto visita museus, vai a concertos e a degustações de vinhos. Sempre com Paul (Michael Sheen) desfilando seus supostos vastos conhecimentos sobre enologia, artes, história, arquitetura e outros assuntos. E então aparece Carla Bruni, como a guia do museu que vai apontar a falha no monumental acervo de sapiências do visitante.

Diversão e neuroses

Embora a trama lembre aqui e ali alguns filmes anteriores de Allen, o cineasta sabe, fazendo mais do mesmo, se reinventar. Como em Alice (1990), elementos fantásticos entram na história naturalmente. Como em Descontruindo Harry (1997), o escritor com problemas encontrará inspiração e apoio onde menos imagina. E como em muitos outros roteiros de Woody, os conflitos entre os casais podem ser tão divertidos quanto neuróticos. Meia-Noite em Paris é bem mais engraçado do que o último Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, de 2010, que continha uma nota melancólica.
A tese central é que todas as pessoas, quando pensam no passado, o enxergam mais glamouroso e interessante do que sua própria realidade cotidiana. Mas lembre-se: trata-se de uma comédia. E há a diversão adicional de encontrar em mesa de bar personalidades como os pintores espanhóis Salvador Dali e Pablo Picasso; o cineasta Luis Buñuel; o fotógrafo Man Ray; Zelda e Scott Fitzgerald, além de Gertrude Stein, Cole Porter, Ernest Hemingway e até Toulouse-Lautrec e Paul Gauguin.
A bela atriz francesa Marion Cotillard, no papel de Adriana, transita entre os mundos, ligando paisagens e romance.
Meia-Noite em Paris poderá agradar até quem não é fã do diretor. Nisso aposta a distribuidora Paris Filmes, que o lança no Brasil em tempo recorde em relação à estreia mundial, que aconteceu no Festival de Cinema de Cannes há menos de dois meses. Os filmes de Allen costumavam demorar meses, às vezes até anos, para chegar às telas brasileiras. Mas de posse de pesquisa que aponta existir público para eles, desta vez o longa foi comprado antecipadamente e chega a 98 salas do País.

Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011, EUA/Espanha, 100 minutos).
Direção: Woody Allen. Com Owen Wilson, Rachel McAdams, Marion Cotillard, Adrien Brody, Kathy Bates.

fonte: Diário do Comércio
17/06/2001

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