sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

FAROESTE HUMANISTA

Dos diversos personagens favorecidos pela parceria entre cinema e quadrinhos, Ken Parker é um dos mais lembrados. Sua inspiração veio do filme Mais Forte que a Vingança, dirigido em 1972 por Sydney Pollack e batizado originalmente nos Estados Unidos como Jeremiah Johnson. O personagem protagonizado por Robert Redford serviu de modelo tanto para o visual quanto para a ideologia do caçador loiro dos gibis.

Por Ezequiel Guimarães

Robert Redford - Mais Forte que a Vingança (imagem: adorocinema.com)

Ken Parker é criação do roteirista Giancarlo Berardi e do desenhista Ivo Milazzo, ambos italianos. A gênese da série retrata a sobrevivência de um homem desiludido com o mundo, que abandona a civilização para ficar isolado. Obviamente, não é tão fácil viver em um local tão inóspito só à base de caça e de pesca, com ursos, índios hostis e tempestades de neve à espreita. Ao contrário dos faroestes tradicionais, em que os valentões resolvem tudo na pancadaria e nos tiros, Ken Parker nem sempre vence seus obstáculos e, muitas vezes, vai até para a prisão. Esse lado humano é o que mais prevalece na série e estende-se aos coadjuvantes.

Ken Parker

Berardi e Milazzo planejavam um único episódio do herói para a revista Colana Rodeo, da Casa Editrice Cepim - atual Sergio Bonelli Editore (SBE). Calhou que nessa época, 1974, a editora procurava um material para substituir a série La Storia Del West, de Gino D'Antonio. Depois de conhecer o projeto da dupla, o editor Sergio Bonelli se alvoroçou e pediu mais capítulos. Também fez uma mudança fundamental. No início, o herói chamava-se Jedediah Baker, inspiração direta de Jeremiah Johnson, o personagem do filme de Pollack. Bonelli vetou a ideia, pois preferia um nome mais curto e fácil de memorizar. Foi aí que surgiu Ken Parker. O roteirista Berardi chegou a brincar com essa fato na HQ História de armas e trapaças: para ganhar a confiança de bandidos em dado momento da trama, Ken Parker deixa-se surpreender com um falso aviso de recompensa em nome de Jedediah Baker.

Ken Parker # 15
Mythos
Novembro/2001

Em 1977, Ken Parker ganhou revista própria e, daí para frente, foram publicadas 59 edições, que circulavam em bancas até maio de 1984. Numa atitude rara no mundo das HQs, em maio de 1989 os autores relançaram as primeiras histórias do herói em nova revista publicada pela Parker Editore, empresa criada por eles próprios para essa empreitada. Em 1992, começou a produção de HQs inéditas para a revista Ken Parker Magazine.


A Parker Editore sobreviveu até abril de 1994, e Ken Parker Magazine parou na 18a. edição. Os autores se renderam às dificuldades empresariais e voltaram a trabalhar com a SBE, onde continuavam a série até o número 36, de 1996, que foi substituída pela revista Ken Parker Speciale, que durou apenas quatro edições - a última datada de 1998. Até hoje, a trama do herói não teve conclusão.

No Brasil, Ken Parker foi publicado pela Vecchi, Best News, Ensaio e Mythos. E, em um surto de paixão por seu herói, o fã brasileiro Wagner Augusto bancou de seu próprio bolso a republicação da primeira série completa - nos primeiros oito números, associado ao editor Faustino Filho. Esse material foi editado pelo Clube dos Quadrinhos (CLUQ), empresa criada por Augusto no início dos anos 1970 para lançar gibis independentes com pequenas tiragens. Graças a ele, a 1a. série que a Vecchi havia deixado incompleta, finalmente pode ser lida pelos brasileiros, 24 anos depois, em 2007. Mesmo com esse esforço, os quatro volumes da série Ken Parker Speciale ainda permanecem inéditos no país.

MUNDO DOS SUPER-HERÓIS #34 - Junho de 2012 - Editora Europa.

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