TUA CASA, ressoa como um trem ao meio-dia,
zumbem as vespas, cantam as caçarolas,
a cascata enumera os feitos do orvalho
teu riso desenvolve seu trinar de palmeira.
A luz azul do muro conversa com a pedra,
chega como um pastor silvando um telegrama
e, entre as duas figueiras de voz verde,
Homero sobe com sapatos sigilosos.
Somente aqui a cidade não tem voz nem pranto,
nem sem-fim, nem sonatas, nem lábios, nem buzina
mas um discurso de cascata e de leões,
e tu que sobes, cantas, corres, caminhas, desces,
plantas, coses, cozinhas, pregas, escreves, voltas
ou te foste e se sabe que começou o inverno.
Pablo Neruda
Cem Sonetos de Amor
Meio-Dia
zumbem as vespas, cantam as caçarolas,
a cascata enumera os feitos do orvalho
teu riso desenvolve seu trinar de palmeira.
A luz azul do muro conversa com a pedra,
chega como um pastor silvando um telegrama
e, entre as duas figueiras de voz verde,
Homero sobe com sapatos sigilosos.
Somente aqui a cidade não tem voz nem pranto,
nem sem-fim, nem sonatas, nem lábios, nem buzina
mas um discurso de cascata e de leões,
e tu que sobes, cantas, corres, caminhas, desces,
plantas, coses, cozinhas, pregas, escreves, voltas
ou te foste e se sabe que começou o inverno.
Pablo Neruda
Cem Sonetos de Amor
Meio-Dia
L&PM Pocket
julho de 2011
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