domingo, 15 de março de 2009

O carnaval nasceu na Antiguidade, resistiu à Idade Média e chegou aos tempos atuais com formas diversas, mas com o mesmo fundamento: a suspensão dos estatutos sociais. Paradoxalmente, as tentativas de controle religioso quase sempre se converteram em mais diversão

por Véronique Dumas

[continuação]

Alguns antropólogos vêem nesse antiqüíssimo rito mesopotâmico, e não nas Sacéias, a fonte do carnaval, que mais tarde seria exportado pelos persas ao Ocidente.

Outros deuses pagãos e reis contribuíram para enraizar as festas carnavalescas no mundo. Na Assíria da Antigüidade, sempre em março, acontecia a festa de Ísis, a divindade egípcia protetora dos navegantes e talvez a de maior popularidade na sua região de influência. Seus adoradores introduziram as máscaras na festa. Era com o rosto coberto que marchavam em uma alegre procissão, na frente de um carro que transportava uma barca, depois oferecida à deusa.

Em Roma, havia outras festas fundadas na suspensão das obrigações e das barreiras sociais. Chamavam-se Saturnálias, duravam uma semana e ocorriam no solstício de inverno. A folia fazia com que, nesse curto período, os senhores usassem chapéus dos escravos e os servissem. Por sorteio, era eleito um rei que podia fazer e dizer o que bem quisesse. Outra cerimônia, a das Lupercálias, acontecia em fevereiro, mês das divindades infernais e das purificações.

ENQUADRAMENTO A partir do século II, os doutores da Igreja decidiram considerar esses festejos como manifestações do Maligno, senhor da ilusão. Todo aquele que invertesse a ordem das relações sociais ou dos sexos entrava para o reino do demônio, e o homem, criado à imagem de Deus, cometia um grave pecado ao modificar sua aparência com máscaras, diziam.

Nada mudou, contudo, nas tradicionais festas romanas de janeiro, em comemoração ao Ano Novo. Em 31 de dezembro, a festa começava com fartas refeições familiares. Em 1o de janeiro, os banquetes e danças avançavam noite adentro. No dia 2, todos ficavam em casa, para se curar dos excessos da véspera. No dia 3, a festa recomeçava e atingia seu auge, com distribuição de moedas à multidão, jogos e desfiles de mascarados.


Na virada do primeiro milênio, a brincadeira incluía boa dose de terror, com foliões chamados de “medos”
Mascarados no carnaval, iluminura, Gervais du Bus, 1310-14, Ilustrações para o Roman de Fauve

fonte: História Viva.

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