segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

XLI


DESVENTURAS do mês de janeiro quando
o indiferente
meio-dia estabelece sua equação no céu,
um ouro duro como o vinho de uma taça repleta
satura a terra até seus limites azuis.

Desventuras deste tempo semelhantes a uvas
pequenas que agruparam verde amargo,
confusas, escondidas lágrimas dos dias,
até que a intempérie publicou seus cachos.

Sim, germes, dores, tudo o que palpita
aterrado, à luz crepitante de janeiro,
madurará, arderá como arderam os frutos.

Divididos serão os pesares: a alma
dará um golpe de vento, e a morada
ficará limpa como o pão novo na mesa.

Pablo Neruda
Cem Sonetos de Amor
Meio-Dia

L&PM Pocket
julho de 2011

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