quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

LXXXV


DO MAR para as ruas corre a vaga névoa
como o bafo de um boi enterrado no frio,
e longas línguas de água se acumulam cobrindo
o mês que a nossas vidas prometeu ser celeste.

Adiantado outono, favo silvante de folhas,
quando sobre os povoados palpita teu estandarte
cantam mulheres loucas despedindo os rios,
os cavalos relincham para a Patagônia.

Há uma trepadeira vespertina em teu rosto
que cresce silenciosa pelo amor transportada
até as ferraduras crepitantes do céu.

Me inclino sobre o fogo de teu corpo noturno
e não apenas teus seios amo mas o outono
que esparge pela névoa seu sangue ultramarino.

Pablo Neruda
Cem Sonetos de Amor
Noite

L&PM Pocket
julho de 2011

Um comentário:

  1. Olá!
    Falei num blog anterior sobre as poesias de Neruda.Com certeza voltarei aqui mais vezes.
    Grande abraço
    se cuida

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