terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

LXXVII


HOJE é hoje com o peso de todo o tempo ido,
com as asas de tudo o que será amanhã,
hoje é o Sul do mar, a velha idade da água
e a composição de um novo dia.

À tua boca elevada à luz ou à lua
se acresceram as pétalas de um dia consumido,
e ontem vem trotando por sua rua sombria
para que recordemos teu rosto que morreu.

Hoje, ontem e amanhã se comem caminhando,
consumimos um dia como uma vaca ardente,
nosso gado espera com seus dias contados,

mas em teu coração pôs sua farinha o tempo,
meu amor construiu um forno com barro de Temuco:
tu és o pão de cada dia para minha alma.

Pablo Neruda
Cem Sonetos de Amor
Tarde

L&PM Pocket
julho de 2011

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