quinta-feira, 30 de julho de 2009

Biblioteca FOLHA

FRANZ
KAFKA


O Processo

(1925)



2003

"Kafka é o romancista da transcendência impossível: para ele, o universo está carregado de sinais que não compreendemos", escreveu o filósofo Jean-Paul Sartre sobre o autor de O Processo, livro que expressa a condição do homem contemporâneo, imerso em um mundo opaco, governado por normas que o alienam, assolado por pesadelos que se materializam em um cotidiano de opressão burocrática.
Desde a primeira frase do romance, somos lançados de maneira abrupta na claustrofobia de uma sociedade administrada por desígnios inumanos, na qual o absurdo se introduz de maneira natural, com uma linguagem límpida, protocolar: "Alguém certamente havia caluniado Josef K., pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum." A partir daí, as desventuras do herói kafkiano acumulam uma sucessão de situações ao mesmo tempo banais e aterrorizantes, ambientadas em tribunais escuros povoados por funcionários corruptos e por juízes e advogados que comentam seu caso sem jamais dizer qual acusação pesa sobre ele.
O Processo é um desafio aos intérpretes: Kafka teria profetizado os regimes totalitários, a violência concreta de sua burocracia abstrata? Seria uma meditação sobre a culpa intríseca à condição humana? Uma afirmação da falta de sentido da existência? Ou, ao contrário, a crença religiosa de que há uma Lei divina à qual não temos acesso? Todas essas interpretações são possíveis. Como diz uma personagem a Josef K., logo no início da narrativa: "O senhor ainda vai perceber como tudo isso é verdade." O Processo é nossa verdade - seja ela metafísica, existencial ou política.


MANUEL DA COSTA PINTO
Colunista da Folha

(254 págs.)