domingo, 26 de julho de 2009

Biblioteca FOLHA

HERMANN
HESSE


Sidarta

(1922)



2003

A expressão "indizível beleza", bela em si, no entanto é inútil. A beleza é sempre impossível de ser dita. Ou ela é experimentada, ou não é. Mas na impossibilidade de se transmitir de outra maneira, recorre-se às palavras para descrever o belo. Por vezes, essa tradução de impacto em verbo é até capaz de fazer com que a sensação de beleza seja compartilhada.
Sidarta transpira beleza como perfume. Descreve sensações e impressões como raramente se consegue. Deixar correr os olhos pelas páginas é se deixar fluir como o rio que Sidarta aprende a escutar com perfeição (e que importância ele dá a saber escutar!).
O que Sidarta procura é justamente o indizível, o que não é "suscetível de ser ensinado". Através das várias "configurações do eu" - brâmane, asceta, comerciante - tateia em busca de uma sabedoria "não só na memória, senão nos olhos, no coração, no estômago". Mas se o samsara é o reino do desejo, a ânsia de sabedoria é um desejo como qualquer outro. Enquanto busca, será sempre insaciável, como todas. Só quando deixa de ser ávido de saber, quando deixa de buscar, é que Sidarta encontra a sabedoria, o autoconhecimento, e o "eu" se reconhece no Absoluto.
Hermann Hesse, alemão que adotou a cidadania suíça, escreveu Sidarta em 1922. Militante pacifista, colocou nos lábios do Buda as palavras: "acautela-te contra o excesso de inteligência".


SONINHA FRANCINE
Colunista da Folha

(124 págs.)

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