segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Vinicius de Moraes




FORA DA LEI

Uma série de fatores - políticos, de mercado e até mesmo estéticos - interrompeu o processo criativo da bossa nova por volta de 1965 e congelou-a naquele formato com que até hoje as pessoas a identificam: a música leve, sincopada, com a temática de praia/verão/garota, típica de seus primeiros tempos. Mas as pessoas se esquecem de que, pouco antes, a partir de 1963, havia um novo formato em ebulição, na esteira da parceria de Vinicius com Baden Powell, que já produzira peças fundamentais como "Berimbau", "Consolação", "Labareda" e "Canto de Ossanha", com seus acentos afro-baianos, mil possibilidades harmônicas e a promessa de uma revolucionária abertura rítmica.
Uma nova bossa nova começava a sair dali, e tinha até uma vertente instrumental, máscula e muscular, exercida nas minúsculas boates do Beco das Garrafas, em Copacabana, por músicos como os saxofonistas J. T. Meirelles, Aurino Ferreira e Paulo Moura, os trombonistas Raul de Souza e Ed Maciel, os pianistas Sergio Mendes e Tenório Jr., o próprio Baden e muitos outros. Era uma espécie de jazz de gafieira, inspirado na criatividade de um gênio do violão e na erudição de um poeta empolgado com a descoberta de novos universos. Mas essa vertente também foi sufocada, junto com o pato, o barquinho e o lobo bobo, todos subitamente postos fora da lei pelo mercado.
Uma parte dessa produção está no CD que acompanha este livreto: 12 de suas 13 faixas mostram a parceria de Vinicius com Baden, na voz de Odette Lara e do próprio Vinicius. (Nada mais justo, já que sua obra com os outros compositores está presente em quase todos os discos desta coleção.) Vinicius é aquilo que os franceses chamam de "incontornável" - quando se trata de bossa nova, impossível fugir dele.
Odette Lara, com 33 anos na gravação do disco Vinicius & Odette, era um dos milagres daquele tempo: uma das grandes belezas nacionais, excepcional atriz (acabara de brilhar em Boca de Ouro, de Nelson Pereira dos Santos) e íntima das palavras - fizera reportagens para Última Hora e seria, anos depois, colaboradora do Pasquim e autora de comoventes livros de memórias. Talvez fosse uma cantora apenas funcional, mas, fazendo par com Vinicius que inaugurava a linhagem dos compositores-cantores, ele sabia dar o recado. Neste, que foi o disco inaugural da gravadora Elenco, fundada por Aloysio de Oliveira, seu fio de voz parece às vezes vir do fundo do mar - ou do coração, como ficava melhor quando se tratava de Vinicius.

Copacabana

Veja também:
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PINTANDO OS CANECOS
RECEITA DE VINICIUS
VINICIUS DIVIDIDO
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3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Pois é falar de vinicius, é falar das turbulencias, das descobertas, das noites marcadas pela boemia.. das possibilidades.. das descobertas de Vinicius e sua trupe.. é cantar o Rio de Janeiro.. é lançar o inevitável , o adoravél e Lendário poeta!
    Bju da garota carioca de outrora..rs

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  3. " E se ao luar, que atua desvairado
    Vem unir-se uma música qualquer
    Aí então é preciso ter cuidado
    Porque deve andar perto uma mulher "

    (Vinicius)

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