terça-feira, 13 de março de 2012

XCVIII


E ESTA PALAVRA, este papel escrito
pelas mil mãos de uma só mão,
não fica em ti, não serve para sonhos,
cai à terra: ali permanece.

Não importa que a luz ou a louvação
se derramem e saim da taça
se foram um tenaz tremor do vinho
se tingiu tua boca de amaranto.

Não quer mais a sílaba tardia,
o que traz e retraz o arrecife
de minhas lembranças, a irritada espuma,

não quer mais senão escrever teu nome.
E ainda que o cale meu sombrio amor
mais tarde o dirá a primavera.


Pablo Neruda
Cem Sonetos de Amor
Noite

L&PM Pocket
julho de 2011

imagem: True Art Gallery
Artist: Karol Bak

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