terça-feira, 13 de março de 2012

A HISTÓRIA SECRETA DA MARVEL NO BRASIL - 2

A chegada dos super-heróis criados por Stan Lee ao Brasil,
40 anos atrás, aconteceu ancorada em ampla campanha patrocinada pela Shell, fato inédito no mercado editorial brasileiro,
e é cercada de curiosidades


GONÇALO JUNIOR & FERNANDO LOPES

Era a segunda vez que se tentava ressuscitar os bons tempos da Timely. A editora foi fundada em outubro de 1939 e abandonou o nome em fevereiro de 1950, durante um processo de reestruturação. Voltou com a marca Atlas em novembro de 1951. Por fim, em julho de 1961, transformou-se em Marvel Comics.

Como o público estava respondendo às expectativas de vendas, acreditava-se no renascimento do gênero. Portanto, perguntou a empresária, por que Aizen não comprava os direitos de publicação de todos eles? Afinal, a Ebal tinha tradição nesse ramo e a empresa americana poderia lhe fazer um bom preço.

Aizen fora procurado pela Transword por sugestão de Luiz Rosemberg, da Agência Periodista Latino-americana (APLA), distribuidora de features (textos, imagens e quadrinhos para jornais e revistas para todo o continente sul-americano, com sede no Rio e escritório em Buenos Aires - de onde atuava nos países de língua hispânica.


Fundada em 1946, a APLA dividia o mercado de representação de quadrinhos com a Record, de Alfredo Machado - a pioneira nesse segmento, que em 1942 importou para o Brasil as histórias de Tocha Humana e Namor e os forneceu para Roberto Marinho (1904-2003) publicá-los no Gibi Mensal e no O Globo Juvenil.


O editor brasileiro não escondeu seu entusiasmo em trazer de volta às bancas personagens que fizeram parte do começo de sua carreira. Mas se esquivou da sugestão por um motivo político, que envolvia diretamente ele, Marinho e Assis Chateaubriand, então os três maiores editores de quadrinhos do país.

Em 23 de setembro daquele ano, o presidente João Goulart baixou o decreto 52.497, que obrigava as editoras de quadrinhos a publicarem dois terços (66%) de material nacional em suas revistas - um assunto que mereceu ampla discussão na imprensa e causou muita polêmica. Parecia ser o ponto final de uma pendência que durava quase quinze anos e se tornara debate nacional em 1961, quando Jânio Quadros anunciou um projeto para atender os artistas. O presidente renunciou um mês depois, sem assinar o decreto.

Goulart assumiu a bandeira e cumpriu a promessa após conseguir de volta seus poderes presidencialistas. Enquanto isso, nas ruas, setores organizados e conservadores da sociedade civil, do empresariado e da Igreja Católica se mobilizavam numa intensa campanha para impedir que o presidente transformasse o país numa nação comunista, segundo acreditavam.

Para Alzien, portanto, lançar os super-heróis da Marvel num contexto de fragilidade política e de intenso nacionalismo - que se manifestava pela pressão direta dos quadrinhistas - poderia se voltar contra ele. O editor temia ser acusado de fazer provocação com mais heróis estrangeiros. Veio o golpe militar, em abril de 1964, a lei de Goulart foi engavetada e sinais de uma ditadura apareciam no horizonte.

O tempo passou. No segundo semestre de 1965, Paulo Adolfo, filho de Aizen e um dos editores da Ebal, viajou para os Estados Unidos, para fazer o curso Orientation In Grafic Arts, com duração de uma semana, oferecido pela Western Printing and Lithographic Company, em Nova Iorque. Naumin, também filho do editor, fizera o mesmo curso pouco tempo antes por sugestão de Alfredo Machado, que achava a experiência importante para profissionalizar a editora de seu velho amigo.

Fonte: Marvel - 40 Anos no Brasil
págs. 8 e 9

continua

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