Ao lado de outro mito, o Gulliver, do satirista irlandês Jonathan Swift (1667-1745), das narrativas epistolares de Samuel Richardson (1689-1761), destinados a público predominantemente feminino, do ânimo quase picaresco das "epopéias cômicas em prosa" e da escrita digressiva, irônica experimental de Laurence Sterne (1713-1768), Robinson Crusoé, de Daniel Defoe (1660-1731), também ele jornalista, reformador social, transformou-se num mito desse individualismo realizador a que o novo realismo formal passava a dar tratamento artístico sério, mesmo quando jocoso. Através da janela do romance e o sob olhar arguto de uma mulher, Jane Austen (1775-1817), a vida privada das elites inglesas, atravessando colinas verdejantes entre maquinações matrimoniais e conversação amena na superfície, preservou-se num retrato irônico e sensível. Foi romance a arma de Charles Dickens, escritor de feroz capacidade descritiva e inventiva, hesitante entre o fascínio vitoriano pela ordem, contenção da violência, e a propensão pessoal em humanizar as figuras marginais (Oliver Twist, Grandes esperanças), ridicularizando o tempo e as instituições (a indústria, em Tempos difíceis, a justiça, em Little Dorrit) com ímpeto satírico que tinha muito de violento.
Robinson Crusoé
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