A PERFORMANCE DE SUPER-HERÓIS NA VELHA LUTA DO BEM CONTRA O MAL DEMONSTRA AS TRANSFORMAÇÕES DA SOCIEDADE E BUSCA A ETERNIDADE AO ADAPTAR-SE A DIVERSAS PLATAFORMAS
POR PAULO FLORO
Desde que Superman apareceu numa revista periódica vestindo sua apertada fantasia vermelha e azul e dando longos saltos entre prédios (ele ainda não voava nesse primeiro momento), os super-heróis mexem com o imaginário popular e influenciam a cultura do Ocidente. Presentes em diversas mídias, tornaram-se uma poderosa máquina de produzir dinheiro, com números que impressionam em quantidade de exemplares vendidos e, mais recentemente, em bilheteria nos cinemas e em royaltes de merchandising. Produtos intrinsecamente ligados à cultura norte-americana são estudados por seu poderio simbólico, que, para os críticos, superam em muito os superpoderes que mostram nas histórias. Representariam um discurso imperialista baseado na velha luta contra o mal, que por vários momentos mudou de representação: o nazismo nos anos 1940, o comunismo nos anos 1950 a 1980 e, atualmente, o terrorismo. O meio acadêmico passa a ver esses personagens uniformizados com um olhar histórico e se apoia na filosofia, na sociologia e até na teologia para buscar entender o que os super-heróis representam para a sociedade de nossa época e em que eles foram importantes nas transformações vividas no século passado. Já os editores se debruçam em outro problema. Os quadrinhos vivem uma crise criativa sem respaldo da crítica e sofrem com o problema de renovação de leitores.
Os quadrinhos já eram consumidos em larga escala desde o início do século 20, por meio das tiras de jornais como Yellow Kid, de Richard Outcault, Flash Gordon, de Alex Raymond, e outros. Mas foram as revistas periódicas de super-heróis que sedimentaram o gênero dos quadrinhos como entretenimento de massa. As tiras eram distribuídas pelos syndicates, agências especializadas que as vendiam para jornais de todos os EUA. Com as revistas, os personagens conquistaram o público infantil, que agora não dependiam do jornal dos pais para acompanhar suas histórias preferidas. Essas revistas tinham suas origens nos pulps, folhetins publicados em papel barato e que tinham apelo maior para os pequenos do que a narrativa de três quadros das tiras.
Para os pesquisadores Carlos Patati e Flavio Braga, autores do Almanaque dos quadrinhos, a expansão do gênero dos super-heróis nas revistas repressentou uma simplificação ideológica das HQs, que levava o leitor a identificar o herói não só na primeira página, mas no primeiro quadro, com a ajuda dos chamativos uniformes coloridos. As histórias exploraram à exaustão a ideia maniqueísta do bem contra o mal. Num período anterior, algumas tiras conseguiam trabalhar com roteiros mais realistas, a exemplo de Agente Secreto X-9, um herói uniformizado escrito por Dashiell Hammett, autor do best seller O falcão maltês. Outras traziam texto elaborado, com influência da literatura.
O primeiro heróis mascarado surgiu nos jornais: o Fantasma, de Lee Falk, em 1936. Sucesso nos diários americanos, o personagem, a exemplo de Mandrake e outros, teve compilações em formato revista, mas ainda tendo o público adulto como alvo. Os criadores do Superman, Jerry Siegel e Joe Shuster, arriscaram seguir o mesmo caminho ao tentar vender a ideia para editores de jornais. Ouviram recusas com a alegação de que o público não aceitaria algo tão inverossímil como um homem com superpoderes. Eles foram encontrar nas crianças um meio mais fértil para crescer e transformar o negócio numa explosão global. O famoso herói inaugurou em 1938 uma nova publicação, a Action Comics, ainda hoje em circulação no mercado norte-americano. "As histórias faziam uma mistura de vários gêneros que já eram sucessos na imprensa: a fantasia, o policial e a aventura", analisa Marco Túlio Vilela, historiador e pesquisador de quadrinhos, autor de Como usas as histórias em quadrinhos na sala de aula. "Os roteiros trabalham com as frustações do leitor, um estilo escapista que causou empatia imediata no público. Trata-se de um arquétipo idealizado do ser humano", diz.
No final da década de 1930 e início dos 1940, os comics, como ficaram conhecidas as revistas em quadrinhos, se tornaram sucesso de vendas, o que levou editores a encomendar outros personagens fantasiados. A criação de Batman um ano depois do Superman, por Bob Kane, polarizou o combate ao crime com um visual mais soturno e histórias mais violentas, incluindo assassinatos cometidos pelo protagonista. A partir daí, teria início a indústria que se tornaria um mercado competitivo anos mais tarde com a chegada da Marvel Comics, casa do Quarteto Fantástico, do X-Men e do Homem-Aranha.
Fonte: revista da cultura - edição 45
abril de 2011
uma publicação da Livraria Cultura
pág. 26
Os quadrinhos já eram consumidos em larga escala desde o início do século 20, por meio das tiras de jornais como Yellow Kid, de Richard Outcault, Flash Gordon, de Alex Raymond, e outros. Mas foram as revistas periódicas de super-heróis que sedimentaram o gênero dos quadrinhos como entretenimento de massa. As tiras eram distribuídas pelos syndicates, agências especializadas que as vendiam para jornais de todos os EUA. Com as revistas, os personagens conquistaram o público infantil, que agora não dependiam do jornal dos pais para acompanhar suas histórias preferidas. Essas revistas tinham suas origens nos pulps, folhetins publicados em papel barato e que tinham apelo maior para os pequenos do que a narrativa de três quadros das tiras.
Para os pesquisadores Carlos Patati e Flavio Braga, autores do Almanaque dos quadrinhos, a expansão do gênero dos super-heróis nas revistas repressentou uma simplificação ideológica das HQs, que levava o leitor a identificar o herói não só na primeira página, mas no primeiro quadro, com a ajuda dos chamativos uniformes coloridos. As histórias exploraram à exaustão a ideia maniqueísta do bem contra o mal. Num período anterior, algumas tiras conseguiam trabalhar com roteiros mais realistas, a exemplo de Agente Secreto X-9, um herói uniformizado escrito por Dashiell Hammett, autor do best seller O falcão maltês. Outras traziam texto elaborado, com influência da literatura.
O primeiro heróis mascarado surgiu nos jornais: o Fantasma, de Lee Falk, em 1936. Sucesso nos diários americanos, o personagem, a exemplo de Mandrake e outros, teve compilações em formato revista, mas ainda tendo o público adulto como alvo. Os criadores do Superman, Jerry Siegel e Joe Shuster, arriscaram seguir o mesmo caminho ao tentar vender a ideia para editores de jornais. Ouviram recusas com a alegação de que o público não aceitaria algo tão inverossímil como um homem com superpoderes. Eles foram encontrar nas crianças um meio mais fértil para crescer e transformar o negócio numa explosão global. O famoso herói inaugurou em 1938 uma nova publicação, a Action Comics, ainda hoje em circulação no mercado norte-americano. "As histórias faziam uma mistura de vários gêneros que já eram sucessos na imprensa: a fantasia, o policial e a aventura", analisa Marco Túlio Vilela, historiador e pesquisador de quadrinhos, autor de Como usas as histórias em quadrinhos na sala de aula. "Os roteiros trabalham com as frustações do leitor, um estilo escapista que causou empatia imediata no público. Trata-se de um arquétipo idealizado do ser humano", diz.
No final da década de 1930 e início dos 1940, os comics, como ficaram conhecidas as revistas em quadrinhos, se tornaram sucesso de vendas, o que levou editores a encomendar outros personagens fantasiados. A criação de Batman um ano depois do Superman, por Bob Kane, polarizou o combate ao crime com um visual mais soturno e histórias mais violentas, incluindo assassinatos cometidos pelo protagonista. A partir daí, teria início a indústria que se tornaria um mercado competitivo anos mais tarde com a chegada da Marvel Comics, casa do Quarteto Fantástico, do X-Men e do Homem-Aranha.
Fonte: revista da cultura - edição 45
abril de 2011
uma publicação da Livraria Cultura
pág. 26
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