quinta-feira, 16 de junho de 2011

O GUIA DO MOCHILEIRO DAS GALÁXIAS

capítulo 1

A casa ficava numa pequena colina bem nos limites de uma vila, isolada. Dela se tinha uma ampla vista das fazendas do oeste da Inglaterra. Não era, de modo algum, uma casa excepcional - tinha cerca de 30 anos, era achatada, quadrada, feita de tijolos, com quatro janelas na frente, cujo tamanho e proporções pareciam ter sido calculados mais ou menos exatamente para desagradar a vista.

A única pessoa para quem a casa tinha algo de especial era Arthur Dent, e assim mesmo só porque ele morava nela. Já morava há uns três anos, desde que resolvera sair de Londres porque a cidade o deixava nervoso e irritado. Também tinha cerca de 30 anos; era alto, moreno e quase nunca estava em paz consigo mesmo. O que mais o preocupava era o fato de que as pessoas viviam lhe perguntando por que ele parecia estar tão preocupado. Trabalhava na estação de rádio local, e sempre dizia aos amigos que era um trabalho bem mais interessante do que eles imaginavam. E era, mesmo - a maioria de seus amigos trabalhava em publicidade.

Na noite de quarta-feira tinha caído uma chuva forte, e a estrada estava enlameada e molhada, mas na manhã de quinta um sol intenso e quente brilhou sobre a casa de Arthur Dent pelo que seria a última vez.

Arthur ainda não havia conseguido enfiar na cabeça que o conselho municipal queria derrubá-la e contruir um desvio no lugar dela.

Às oito horas da manhã de quinta-feira, Arthur não estava se sentindo muito bem. Acordou com os olhos turvos, levantou-se, andou pelo quarto sem enxergar direito, abriu uma janela, viu um trator, encontrou os chinelos e foi até o banheiro.

Pasta na escova de dentes - assim. Escovar.

Espelho móvel - virado para o teto. Arthur ajustou-o. Por um momento, o espelho refletiu um segundo trator pela janela do banheiro. Arthur reajustou-o, e o espelho passou a refletir o rosto barbado de Arthur Dent. Ele fez a barba, lavou o rosto, enxugou-o e foi até a cozinha em busca de alguma coisa agradável para pôr na boca.

Chaleira, tomada, geladeira, leite, café. Bocejo.


Fonte da imagem: Té la mà Maria - Reus

Fonte: O GUIA DO MOCHILEIRO DAS GALÁXIAS
DOUGLAS ADAMS
1979

SEXTANTE - 2004
págs. 17 a 18

Tradução Paulo Fernando Henriques Britto e Carlos Irineu da Costa

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