quarta-feira, 20 de abril de 2011

Elis vira estrela

A hora da estrela do Sul chegaria em 1965. O ex-namorado Solano Ribeiro emplaca na TV Excelsior a ideia de um festival nos moldes do que era produzido em San Remo, mas, ao contrário do original italiano, sem pressão das multinacionais da música. A Rhodia, empresa que costumava dialogar com o mercado por meio de eventos que misturavam música e moda, aceitou patrocinar o Festival Nacional de Música Popular Brasileira, Festival da MPB para a imprensa. Essa seria uma das explicações para a sigla que viria identificar o estilo híbrido daquela geração nascente de artistas "pós-Bossa-Nova".
Por conta da diversidade e riqueza estilística dos meninos, que chegavam com heranças não só recentes, como a da sofisticação da Bossa Nova, mas também distantes, como a da era da Rádio Nacional, além de contemporâneas, como a do samba, marchas, ritmos nordestinos, toadas interioranas, e até um pouco mais à frente, com o rock e suas guitarras elétricas, a MPB até hoje é um gênero miscigenado, que não esteve e nem está ligado especificamente a qualquer ritmo. A MPB é tudo, mas, atenção: nem tudo é MPB.
A colisão de Elis com "Arrastão" seria uma espécie de big-bang do estilo, explodindo partículas de vida pelo universo da música em criação. Depois de um banho de imagem produzido pelo coreógrafo Lennie Dale, sagra-se vencedora do I Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelcior com a música de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Sua imagem vibrante, já de cabelos cortados, girando os braços como um helicóptero no explosivo refrão da canção, arrebatou o Brasil em minutos.

Fonte da imagem: Té la mà Maria - Reus


Da noite para o dia Elis se transformara em celebridade. A única coisa transitória surgida naquela noite foi mesmo o apelido gaiato de Hélice Regina para a estreante, que ainda voaria muito mais alto nos céus brasileiros . No momento zero de sua trajetória artística, Elis Regina já chegava trazendo a revolução: sua perfomance, combinada à melodia do novato Edu e à letra do poeta veterano, é considerada o tiro de misericórdia na já agonizante estética da Bossa Nova.
Dois dias depois da noite histórica, ela estrearia em São Paulo o show Elis, Jair e Jongo Trio, lançado ao vivo pela Phillips com o nome "marqueteiro" de 2 na Bossa. O disco foi um fenômeno de vendas e descolou para ela e Jair Rodrigues o programa O Fino da Bossa na TV Record, além de mais dois volumes para o projeto. Ainda no mesmo ano da explosão, Elis lançaria seu primeiro trabalho solo na nova gravadora, o disco Samba Eu Canto Assim, com um repertório politizado, que inseria nomes da ala esquerda do pensamento musical brasileiro, como Ruy Guerra, Carlos Lyra e Nelson Lins e Barros do CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE.
Servindo de contraste, o diretor Manoel Carlos produziria um disco ao vivo refinadíssimo: O Fino do Fino sintetizava o melhor do encontro de Elis com o Zimbo Trio de Amilton Godoy (piano), Luiz Chaves (baixo) e Rubens Barsotti (bateria), ocorrido no Teatro da Rua da Consolação, dentro da TV Record e de sua programação especial dirigida pelo futuro novelista global.


Fonte da imagem: Té la mà Maria - Reus

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