Em 1963, o cronista Sérgio Porto, dono do irreverente pseudônimo de Stalislaw Ponte Preta, escrevera em Autorretrato do artista quando não tão jovem que era um "boêmio que adora ficar em casa". Valendo-se desse lado notívago, ao saber que a vizinhança da rua Rodoldo Dantas, em Copacabana, atirava garrafas para afugentar boêmios e protestar contra o barulho que fazia certo reduto musical bossa-novista durante a madrugada, ele não titubeou: deu ao local o nome Beco das Garrafas.
Pegou. Em 1964, já na curva estética descendente da Bossa Nova, Elis Regina desembargava para assinar com a Phillips e com a TV Rio, e seria pelas mãos do bateirista-lenda Dom Um Romão, fera que nos deixou em 2005 tendo manejado as baquetas do seminal Copa Trio e do platinado Brasil 66, de Sergio Mendes, em seus melhores momentos. E assim a gauchinha entraria na fechada roda carioca do tal Beco das Garrafas.
Ma Griffe, Baccara, Little Club e Bottle's Bar: excetuando da lista um específico "inferninho" especializado em atividades menos elevadas que a música, eram basicamente esses os lugares que compunham o Beco. No (mini) backstage daquela cena atuava uma dupla criativa de boêmios chamada Miele & Bôscoli. O segundo nome da grife, Ronaldo Bôscoli, era o multitalentoso parceiro de Roberto Menescal em grandes clássicos da Bossa Nova, como "Barquinho". Ronaldo e Luís Carlos Miele faziam ali hora extra depois do expediente em uma agência de publicidade, inventando espetáculos musicais que pudessem ser encarados até em um banheiro de quitinete da babilônica Copacabana. Os pocket-shows, formato inventado pela dupla por necessidade, tinham de caber em micro-orçamentos de produção. Compensavam com criatividade: até canudos de cartolina eram usados para direcionar a luz sobre os artistas em cena. Valia tudo, desde que não se abrisse mão da elegância e do bom gosto característicos do gênero do amor, do sorriso e da flor.
O primeiro show de Elis no Beco, Bossa Três, não seria ainda dirigido pela dupla, mas pelo jornalista Renato Sérgio, tendo a participação do padrinho local, Dom Um Romão, e de Íris Lettiere, que, naquele espetáculo, em vez de partidas e chegadas de voos com as quais estamos habituados a ouvir sua voz hoje no aeroporto Santos Dumont, do Rio, leria poemas. A garota gaúcha chamou atenção da cena carioca, que mesmo já tendo sido destronada havia quatro anos do posto de capital da república pela biônica Brasília, ainda ditava moda, comportamento e tendências para o resto do Brasil.
Pegou. Em 1964, já na curva estética descendente da Bossa Nova, Elis Regina desembargava para assinar com a Phillips e com a TV Rio, e seria pelas mãos do bateirista-lenda Dom Um Romão, fera que nos deixou em 2005 tendo manejado as baquetas do seminal Copa Trio e do platinado Brasil 66, de Sergio Mendes, em seus melhores momentos. E assim a gauchinha entraria na fechada roda carioca do tal Beco das Garrafas.
Ma Griffe, Baccara, Little Club e Bottle's Bar: excetuando da lista um específico "inferninho" especializado em atividades menos elevadas que a música, eram basicamente esses os lugares que compunham o Beco. No (mini) backstage daquela cena atuava uma dupla criativa de boêmios chamada Miele & Bôscoli. O segundo nome da grife, Ronaldo Bôscoli, era o multitalentoso parceiro de Roberto Menescal em grandes clássicos da Bossa Nova, como "Barquinho". Ronaldo e Luís Carlos Miele faziam ali hora extra depois do expediente em uma agência de publicidade, inventando espetáculos musicais que pudessem ser encarados até em um banheiro de quitinete da babilônica Copacabana. Os pocket-shows, formato inventado pela dupla por necessidade, tinham de caber em micro-orçamentos de produção. Compensavam com criatividade: até canudos de cartolina eram usados para direcionar a luz sobre os artistas em cena. Valia tudo, desde que não se abrisse mão da elegância e do bom gosto característicos do gênero do amor, do sorriso e da flor.
O primeiro show de Elis no Beco, Bossa Três, não seria ainda dirigido pela dupla, mas pelo jornalista Renato Sérgio, tendo a participação do padrinho local, Dom Um Romão, e de Íris Lettiere, que, naquele espetáculo, em vez de partidas e chegadas de voos com as quais estamos habituados a ouvir sua voz hoje no aeroporto Santos Dumont, do Rio, leria poemas. A garota gaúcha chamou atenção da cena carioca, que mesmo já tendo sido destronada havia quatro anos do posto de capital da república pela biônica Brasília, ainda ditava moda, comportamento e tendências para o resto do Brasil.
Fonte da imagem: Té la mà Maria - Reus
No mesmo ano, foi justamente no Rio de Janeiro que Elis acabou por arrumar um namorado paulistano. Solano Ribeiro, produtor musical da TV Excelsior, viera à Cidade Maravilhosa garimpar atrações para um evento, quando, do encontro com a cantora que já causava frisson, nasceu uma aproximação mais íntima. Solano teria seu nome marcado para sempre na história da MPB justamente por ser o idealizador dos festivais que, a partir de 1965, tomaram conta da audiência televisiva, tornando-se mania nacional.
Antes disso, Elis seria finalmente dirigida por Miele & Bôscoli no Beco das Garrafas. O primeiro contato de Ronaldo e Luís Carlos com Elis foi auditivo. De passagem por uma loja de discos, ouviram uma voz que impressionava tanto pela qualidade quanto pela total ausência dela no repertório. Conferiram na capa a dona da voz, e chegaram à conclusão que dali poderia surgir algo, mas a balconista informou que a menina morava no Sul, então os dois esqueceram o caso.
Tempos depois, a dupla é capturada pela energia transbordante de sua perfomance no show de estreia do Beco, e rapidamente toma conta da situação. No entanto, logo descobriram que não iria ser fácil "domar" a fera. A moça não gostava do horário desconfortável dos ensaios, que começavam por volta das 23h30, por conta dos compromissos diurnos de seus diretores. Depois da estreia, já com o estouro de uma temporada superlotada, era a vez de Elis eventualmente faltar às apresentações das sextas-feiras ou sábados, segundo relatos de Bôscoli, para fazer shows que o pai marcara clandestinamente. Logo Elis seria seduzida por São Paulo, deixando o Rio para se hospedar provisoriamente no sofá do empresário Marcos Lázaro na capital paulista, enquanto sua família voltava para Porto Alegre.
Antes disso, Elis seria finalmente dirigida por Miele & Bôscoli no Beco das Garrafas. O primeiro contato de Ronaldo e Luís Carlos com Elis foi auditivo. De passagem por uma loja de discos, ouviram uma voz que impressionava tanto pela qualidade quanto pela total ausência dela no repertório. Conferiram na capa a dona da voz, e chegaram à conclusão que dali poderia surgir algo, mas a balconista informou que a menina morava no Sul, então os dois esqueceram o caso.
Tempos depois, a dupla é capturada pela energia transbordante de sua perfomance no show de estreia do Beco, e rapidamente toma conta da situação. No entanto, logo descobriram que não iria ser fácil "domar" a fera. A moça não gostava do horário desconfortável dos ensaios, que começavam por volta das 23h30, por conta dos compromissos diurnos de seus diretores. Depois da estreia, já com o estouro de uma temporada superlotada, era a vez de Elis eventualmente faltar às apresentações das sextas-feiras ou sábados, segundo relatos de Bôscoli, para fazer shows que o pai marcara clandestinamente. Logo Elis seria seduzida por São Paulo, deixando o Rio para se hospedar provisoriamente no sofá do empresário Marcos Lázaro na capital paulista, enquanto sua família voltava para Porto Alegre.
Fonte da imagem: Té la mà Maria - Reus
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