Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura;
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,
Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Bocage
Este soneto costuma ser considerado um auto-retrato de Bocage.
Fonte da imagem: Té la mà Maria - Reus
Fonte:
Literatura Comentada
Nova Cultural
1988
Seleção de textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico por:
Ricardo Maranhão
Págs. 23-24
Nenhum comentário:
Postar um comentário